dr hallim feres DMRI atrofica 02
dr hallim feres DMRI atrofica 02

Novo Implante de Retina para DMRI

Novidade que pode melhorar – e muito – a qualidade de vida

O que é DMRI e por que causa cegueira

A Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI) é uma doença que danifica a região central da retina — a mácula, responsável pela visão de detalhes finos, como ler, reconhecer rostos e enxergar com nitidez.

Nas formas avançadas e atróficas (também chamadas de atrofia geográfica), as células fotorreceptoras morrem, e o paciente passa a enxergar uma mancha escura bem no centro do campo visual.

Até recentemente, não existia nenhum tratamento capaz de restaurar essa visão central nessa forma de degeneração macular.

As células mortas (fotorreceptores) simplesmente não se recuperam.

A novidade: um implante eletrônico que substitui os fotorreceptores

Em outubro de 2025, um estudo publicado no New England Journal of Medicine apresentou resultados históricos.

Pesquisadores europeus e norte-americanos testaram um microchip sub-retiniano chamado PRIMA, capaz de restaurar visão central útil em pacientes com DMRI seca avançada.

O sistema funciona em duas partes:

  1. Um microchip de silício, do tamanho de um grão de arroze da espessura de um fio de cabelo, é implantado sob a retina, bem na região onde as células morreram.
  2. O paciente usa óculos especiais com uma câmera, que capta a imagem do ambiente e a projeta no chip por meio de luz infravermelha.

Cada ponto do chip transforma essa luz em pequenos pulsos elétricos, que ativam as células da retina ainda saudáveis. O cérebro, então, interpreta esses sinais como uma imagem — criando uma “visão artificial” na área que antes estava cega.

Resultados do estudo

O ensaio clínico envolveu 38 pacientes com DMRI atrófica em estágio avançado. Após um ano de acompanhamento:

  • 81% dos pacientes apresentaram melhora significativa da visão, ganhando em média cinco linhas no teste de leitura.
  • 84% relataram conseguir ler letras, números e palavras em casa com o sistema ativado.
  • A visão periférica natural permaneceu estável — o chip atua apenas na região central da retina.
  • Os efeitos adversos foram leves e temporários, como pressão ocular elevada nas primeiras semanas ou pequenas hemorragias locais.

Em resumo: o PRIMA não devolve a visão normal, mas cria uma nova forma de enxergar, que permite reconhecer rostos, ler textos simples e retomar atividades antes impossíveis.

Por que é tão importante

Essa é a primeira vez que uma tecnologia eletrônica consegue reconstruir parte da visão central em pessoas que tinham cegueira total por DMRI seca.

Diferente de lentes de aumento ou telescópios intraoculares (que ampliam imagens), o PRIMA substitui diretamente os fotorreceptores danificados, reativando o sistema visual pela retina.

É um avanço comparável ao surgimento dos implantes cocleares na otorrinolaringologia — uma ponte entre biologia e eletrônica que devolve função sensorial perdida.

E agora?

O PRIMA ainda está em fase de pesquisa, com novos estudos sendo realizados na Europa e nos Estados Unidos.

Mas os resultados já indicam que, num futuro próximo, implantes de retina poderão se tornar uma opção real para quem perdeu a visão central por DMRI atrófica.

Versões mais modernas, com mais pixels e maior definição, estão em desenvolvimento — e poderão ampliar o campo de visão ou permitir cores mais nítidas.

Mensagem aos pacientes

Se você ou alguém da sua família (irmãos, pais, tios, ou avós) tem DMRI, é importante manter o acompanhamento regular com um oftalmologista especializado.

Enquanto aguardamos a chegada dessa tecnologia ao Brasil, podemos:

  • Controlar fatores de risco (tabagismo, hipertensão, colesterol).
  • Usar suplementos antioxidantes quando indicados.
  • Fazer exames de imagem de alta resolução (como OCT e autofluorescência) para monitorar a progressão.
  • Participar de programas de reabilitação visual que ajudam a aproveitar melhor a visão periférica.

Referência

Subretinal Photovoltaic Implant to Restore Vision in Geographic Atrophy Due to AMD

Authors: Frank G. Holz, M.D., Yannick Le Mer, M.D., Mahiul M.K. Muqit, M.D., Ph.D., Lars-Olof Hattenbach, M.D., Ph.D., Andrea Cusumano, M.D., Ph.D., Salvatore Grisanti, M.D., Laurent Kodjikian, M.D., Ph.D., +17 , and José-Alain Sahel, M.D.Author Info & Affiliations

Published October 20, 2025

DOI: 10.1056/NEJMoa2501396

https://www.ft.com/content/c2e8cb34-7d09-4360-9647-b7cbb09f0a5d

https://www.theguardian.com/science/2025/oct/20/experts-hail-remarkable-success-of-electronic-implant-in-restoring-sight

Ficou em dúvida? Fale comigo.

Dr. Hallim Féres Neto

Formado em Medicina pela Faculdade de Medicina do ABC em 2004, Residência em Oftalmologia pela Faculdade de Medicina do ABC em 2007 e especialização em Gestão em Saúde no Insper em 2015. É Cirurgião de segmento anterior no Hospital Israelita Albert Einstein desde 2010 Possui especialidade em: Cirurgia Refrativa, Catarata, Ceratocone e Adaptação de Lente de Contato

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