dr hallim ambliopia 02
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Ambliopia: O que é e como tratar?

Publicado originalmente no portal Just Real Moms

Você sabe o que é ambliopia? É também chamado por aí de “olho preguiçoso”. Uma condição comum e que quando tratada cedo tem grandes chances de ser resolvida.

De vez em quando recebo no consultório crianças para primeira avaliação com o oftalmologista que não apresentam queixa nenhuma: brincam como todas as outras, vão bem na escola e não têm dificuldade para as atividades normais do dia a dia.

Mas, aí na quando eu examino um olho de cada vez aparece uma surpresa: um olho vai super bem e enxerga tudo, mas o outro não é tão bom assim, e às vezes não enxerga quase nada.

Por que isso acontece?

A visão é o único dos 5 sentidos que não nasce já 100% desenvolvido.

Os olhos da criança precisam de estímulo para criar as comunicações entre o olho e o cérebro que vão fazer a criança entender a imagem que o olho recebe.

Já escrevi sobre como é o desenvolvimento visual das crianças, resumidamente, vamos de uma visão bem precária ao nascimento até o que chamamos de 20/20 entre os 5 e 7 anos de idade.

Se durante esse período um dos olhos por alguma razão não tem estímulo o suficiente, ele não desenvolve o sistema visual desse lado.

Isso acontece em cerca de 2% da população e as causas são várias, as mais importantes são essas:

  • Diferença de grau entre os olhos
  • Estrabismo
  • Obstrução visual (ptose, opacidade na córnea, catarata, tumores na retina)

Todas essas causas têm uma coisa em comum: em um dos olhos o caminho da luz está livre e a imagem que o olho da criança recebe chega facilmente na retina.

Mas, no outro a luz se perde no meio do caminho e a imagem não chega como deveria – pra não ficar com a imagem dos dois olhos borrada, o cérebro da criança então resolve ignorar a imagem recebida pelo olho pior e passa a usar apenas o olho que ele considera bom.

Ao longo do tempo, o olho bom vai se desenvolvendo e o olho ruim vai ficando cada vez pior, pois o cérebro vai se “esquecendo” dele.

A primeira coisa a fazer é sempre descobrir a causa e tratar. Então, a gente prescreve óculos, opera a catarata, a ptose… o que precisar pra luz entrar direito no olho da criança e estimular a retina.

Muitas vezes só passar a usar óculos já traz uma melhora no potencial de visão desse olho

A segunda coisa, depende muito da família. Se o cérebro já “escolheu” um olho de preferência, muitas vezes você pode até colocar óculos que não vai ter o desenvolvimento do olho ruim, a gente precisa fechar o olho melhor pra obrigar o cérebro a usar o olho pior.

Estudos mostram que 73% das crianças até 5 anos que começam a fazer oclusão do olho bom de 2 a 6 horas por dia chega na visão 20/25 em menos de 1 ano – o que é uma visão melhor do que a necessária para passar no exame do DETRAN, por exemplo.

Esse sucesso no tratamento diminui um pouco nas crianças mais velhas, mas, mesmo assim, é muito satisfatório.

Se você chegou até aqui, talvez tenha em casa uma criança que precisa usar o tampão e está sofrendo com isso.

Sempre é hora para começar a usar, e os estudos mais recentes mostram que o uso da oclusão 6 horas por dia têm resultado semelhante ao uso o dia todo.

Então, provavelmente seu filho maiorzinho não vai precisar ir à escola usando tampão. Se precisar, tenho um pai de paciente que comprou tapa-olho de pirata pra classe inteira e todos usaram no primeiro dia junto com ele, fica a dica.

Quando a ampliopia é mais severa, a criança sofre por ter que usar o tampão no olho bom. E, muitos pais acabam ficando com pena de obrigar a criança a usar.

Oriento que atividades de perto, coloridas e com detalhes são as melhores para ajudar a estimular a visão. Então, nesses casos, vale a negociação de um tempo a mais jogando ou vendo vídeo no celular, contanto que esteja usando óculos e tampão (pois é, nesses casos, o vilão acaba sendo um aliado).

A gente não sabe o que seu filho vai querer ser no futuro.

A maior parte das profissões não requer que a pessoa tenha visão perfeita com ambos os olhos, mas algumas sim.

Além disso, estatisticamente pessoas que enxergam com um olho só têm mais chance de sofrer acidentes que afetem o olho bom do que o olho ruim. Por exemplo, uma bola de futebol vindo em sua direção, você vai virar para o olhar o perigo com o olho que enxerga melhor.

Por isso é muito importante ser rigoroso com o tratamento de ampliopia.

Eu vejo adultos que são amblíopes, todos têm vida normal mesmo tendo um olho pior que o outro.

Mas, tenho certeza de que todos prefeririam enxergar bem com os dois olhos.

Não conseguir que a criança use o tampão não é falta de amor. É muitas vezes difícil porque seu filho não entende na idade dele a importância do que você está fazendo.

Mas, é essencial que a criança tenha a possibilidade de desenvolver todo seu potencial.

Dr. Hallim Féres Neto

Formado em Medicina pela Faculdade de Medicina do ABC em 2004, Residência em Oftalmologia pela Faculdade de Medicina do ABC em 2007 e especialização em Gestão em Saúde no Insper em 2015. É Cirurgião de segmento anterior no Hospital Israelita Albert Einstein desde 2010 Possui especialidade em: Cirurgia Refrativa, Catarata, Ceratocone e Adaptação de Lente de Contato